martes, 27 de marzo de 2007

Revolução Cultural



Ademar Bogo

Surgiu nos últimos tempos a idéia de que todos somos culpados pelos males que estão acontecendo em nosso país, por isso devemos nos indignar e reagir para que a mentira não passe ser verdade.
Nós vamos dizer o seguinte: não somos culpados pelas relações sociais que existem. Não fomos nós que deformamos os conceitos, não fomos nós que deformamos os métodos, não fomos nós que deformamos os valores. Somos produto de uma sociedade que nos entregou um país com determinados problemas e com características que nos deixa muito preocupados.
Portanto, tudo isso se constitui na herança que recebemos. Tem coisas boas, mas também tem coisas que não prestam. Mas não somos culpados pela produção dessa herança. Então precisamos entender que de agora em diante, ao mesmo tempo que estamos construindo a sociedade, estamos construindo a nós mesmos. E por isso vamos construir uma sociedade diferente, vamos construir seres humanos diferentes.
Por isso é que não vai haver distinção entre: revolução política e social e revolução cultural, porque a revolução social e política transforma a realidade econômica, política e social e a revolução cultural transforma o ser humano.
É isto que vamos combinar: as duas coisas, e certamente vocês serão torturados nos próximos anos. Serão torturados por uma tarefa muito difícil de se realizar, não será fácil realizar esta tarefa, mas será para sempre corajosa e mérito de vocês.
Será para àqueles, que tivemos a coragem de entrar para o Movimento, um momento histórico significativo para plantar as idéias e transformá-las em valores. E é por isso que vocês terão a responsabilidade de nos ajudar a dar continuidade a essa grande obra da construção de uma sociedade melhor.
Como ponto de partida, apresento a vocês quatro mentiras do imperialismo norte-americano e da burguesia brasileira, que tem tentando mostrar para gente, que o nossos jovens tem acreditado e acreditado porque não conhecem as verdadeiras intenções dos criadores deste mundo de fantasias.
1o – O conto do falso sentimento.
Eu vou apresentar uma imagem para vocês, talvez um pouco erótica, como vocês são jovens vão entender facilmente.
Quando o nosso pai e a nossa mãe se encontraram e foram em busca do prazer pessoal, eles derramaram um no outro milhares de espermas. Um destes milhares foi você. Então nesse mundo de fantasia ou de prazer, havia uma possibilidade de vida e uma possibilidade de morte, porque venceu um e os demais espermas foram derrotados, porque não encontraram um lugar onde pudessem fecundar a sua energia e por isso tiveram um momento temporário de prazer, e num momento seguinte morreram porque tinham a única possibilidade que era a de morrer.
O imperialismo e a classe dominante brasileira, têm procurado fazer isso com a nossa juventude nas últimas duas décadas. Dizem-nos que temos de sair para o mundo e competir porque é no mundo que nós vamos encontrar prazer, encontrar diversão, que podemos vencer, e que venceremos se tivermos competência individual.
Mas como vamos vencer se eles já estabelecem as normas de que vai vencer um só? E geralmente quem vence é um filho da mesma classe que tem boas condições! Todos saem a procura de uma vida melhor, nas cidades, procuramos uma vida sempre mais fácil. Na verdade, nós estamos indo à procura da morte porque a nossa juventude não tem encontrado solução nenhuma para resolver os problemas atuais.
Então nós somos aqueles espermas que caíram naquele mundo de fantasia e morreram, e só se salvaram aqueles que tiveram a oportunidade de entrar na universidade, aqueles que tiveram a possibilidade de estudar no exterior e que voltam para cá para assumir o comando de nosso país. E a nossa juventude, a nossa grande massa de jovens, se diverte, dança e esperneiam abraçados neste mundo de fantasia que nada de concreto apresenta.
Esta falsa idéia, este falso sentimento que nós dentro do capitalismo podemos vencer e que dentro do capitalismo teremos vida melhor, é mentira.
Não queremos vida melhor para alguns no capitalismo! Não há espaço para os filhos dos pobres na mesa dos ricos no capitalismo. Na mesa dos ricos só tem espaço para os filhos deles. Nós não podemos ocupar aquele espaço. Então vejam como é perversa essa idéia e como é perverso e maldoso este mundo de fantasias que a classe dominante mostrou para nós, que passa para a gente através da grande imprensa.
Nós queremos uma sociedade melhor, queremos ser jovens autênticos, mas temos que sair dessa idéia. Essa idéia de diversão, essa idéia de prazer fácil, esse mundo de fantasias em que não podemos construir nossos castelos. Aí não haverá espaço para a gente. Então precisamos buscar a alternativa diferente, e para buscar a alternativa diferente temos que começar a ser diferentes.
Precisamos mudar para que outros jovens acreditem que é possível mudar. Temos a possibilidade de mudar porque já construímos parte da nossa história através do nosso próprio esforço, e construímos nossa história de forma diferente.
Ou seja, o diferente para nós deve representar o contrário do que está acontecendo, quando se está deixando para trás seres humanos que estão morrendo por falta de oportunidade. Por isso, nosso sentimento deve ser verdadeiro, nosso sentimento deve se voltar para as pessoas e não para as coisas que só servem para alguns e que jamais poderemos construir para todos.
Nós temos que voltar nossos sentimentos para as pessoas, para que elas, junto com agente, possam ajudar a construir esta alternativa.
Vivemos em um mundo de fantasias e por isso não nos conhecemos. Nos encontramos e não nos conhecemos. Nos abraçamos e não sabemos a nossa identidade. E é isso que vai faz com que não tenhamos vontade de lutar.
2o – O conto do pássaro cego
Existe em nosso país, no nordeste, um pássaro que chama Assum Preto, tem até música sobre ele. Os companheiros desta região sabem. E tem uma perversidade na região, que certas pessoas descobriram, que furando os dois olhos do pássaro, ele canta mais e mais bonito. Eles pegam o pássaro, o cegam, para que ele cante melhor E esse pássaro fica na gaiola, canta mais bonito e alegra as pessoas que ficam ao redor, porque acham que ele está se divertindo.
A mesma imagem do pássaro cego, a classe dominante tem com a gente. A classe dominante procurou cegar a nossa juventude, dizendo que ela pode se alegrar se ela não enxergar aquilo que significa transformação, ela canta mais bonito se estiver alienada. E ela pode se divertir nos rodeios, nas discotecas, nos shopping centers... Será uma juventude mais alegre do que essa juventude lutadora.
E, a nossa juventude brasileira, perdeu a vontade de lutar. A nossa juventude brasileira perdeu a vontade, perdeu o horizonte de ser guerrilheira. Os nossos pais há 20 anos atrás falavam de guerrilha e tinham seu exemplo nos lutadores das montanhas. A nossa juventude perdeu a vontade de subir a montanha porque a burguesia cegou seus olhos, não deixam a gente enxergar o horizonte. E a gente pensa que está fazendo coisas bonitas, coisas alegres e na verdade estamos cantando para agradar a classe dominante, obedientemente através dos nossos gestos e de nossos comportamentos.
Os nossos pais falavam em revolução, porque os milhares de jovens do tempo de nossos pais eram revolucionários e a nossa juventude brasileira não fala mais em revolução, não tem mais um ideal de revolucionário.
A nossa juventude do passado falava em cidadão, falava em povo, porque tinha vontade de construir uma nação; e é por isso que nossos pais, parentes de nossos pais e jovens da idade de nossos pais, morreram assassinados pela repressão, porque eles acreditaram que era possível acreditar, e nós não conseguimos aprender isso porque fomos cegados por esta fumaça, por esta ilusão de que o país precisa ser construído apenas por uma parte do povo.
Não é possível construir uma sociedade só com uma parte do povo. É preciso que todo o povo se empenhe, porque cada um deve sentir que está construindo esta história.
Portanto, não somos nós que vamos concordar com esta idéia de que a minoria poderá construir nosso país e que a minoria poderá coordenar o país e assim fazer com que as pessoas sejam felizes.
Então, se a nossa juventude esqueceu as montanhas e as selvas, a nossa juventude acreditou que haveriam outras montanhas para ser ocupadas, mas foi enganada e ocupou as montanhas do vídeo-game, ela ocupou as montanhas das discotecas e ela ocupou também a montanhas do lixo. Lixo real, nas cidades e o lixo cultural que a elite produz e faz com que a gente acredite que lixo sirva como momentos de diversão para nós.
Vejam bem, os nossos pais subiam as montanhas para serem guerrilheiros e nós descemos as montanhas porque não acreditamos e ficamos cegos. Então, neste conto de que ficando cego a gente canta melhor, não podemos acreditar! O canto do pássaro cego pode ser bonito, mas pode ser um canto de dor. Como os homens não sabem conversar com os pássaros, não sabem se o Assum Preto está cantando de alegria ou está cantando de tristeza.
Então, temos que cantar, temos que nos alegrar, mas com os olhos de nossa consciência abertos para que possamos enxergar porque é que a gente canta, e ter consciência das palavras que pronunciamos nos cantos. Ter consciência da melodia que a gente produz, e é isso que vai fazer a beleza da nossa revolução. Nós não faremos uma revolução com tristeza, e também não faremos uma revolução com cegueira. A cegueira da consciência faz parte da deficiência do ser humano, faz parte da ignorância do ser humano e quando essa cegueira é proposital, ela é muito mais perversa, e nós, portanto, não podemos acreditar que esse seja um bom caminho.
3o – O conto do Golias e do Davi.
Eles falaram para nós, e muitos falam hoje para os militantes do MST: companheiros lutadores, vocês que são jovens ainda, vocês, não cometam os erros que cometemos no passado, porque tentamos enfrentar o imperialismo e não tínhamos força para combatê-lo, pois o imperialismo é muito forte e vocês não devem lutar pelo poder da sociedade, porque o poder é uma coisa muito difícil de se alcançar. É melhor vocês continuarem lutando pela reforma agrária. É melhor vocês continuarem lutando por terra, que é muito mais fácil e é muito mais vantajoso para vocês. Pretendem mostrar que ainda existe um Golias difícil de ser derrotado, que ele é grande, ele é forte e que nós como pequenos Davis, não podemos arriscar nem se quer passar por perto.
Ora, companheiros e companheiras. Se a gente acreditasse que a força dos opressores fosse eterna, nunca teríamos levantado a cabeça! Se nós tivéssemos acreditado que o latifúndio é forte, é prepotente e usa armas, nós nunca teríamos saído de casa! Os pais de vocês não teriam arriscado a vida deles nem teriam arriscado a vida de vocês, quando eram ainda crianças para levá-los a ocupar a terra.
Não, nós não somos pequenos Davis! Nós somos pequenos, mas temos em nós o germe da força que vai tornar-nos grandes. E os grandes, são grandes apenas como motivo para a gente lutar para derrotá-los. Portanto, a prepotência dos países ricos que dizem ser de primeiro mundo, e que nós somos do terceiro mundo, é mentira.
Nós também somos do “primeiro” mundo, porque o mundo que nós vivemos é esse aqui e nós não queremos nem o segundo nem o terceiro mundo. Nós queremos ser o primeiro mundo que o nosso é, nós não queremos sair desta pátria, deste solo que é nosso e aqui nós vamos construir para os nossos descendentes um país melhor.
Esse é o primeiro mundo que a juventude está encontrando, e nós não encontraremos outro, a não ser se a gente desanimar e migrar para outros países, achando que lá está a fartura e aqui só tem a miséria, aqui também tem riqueza! Aqui nós podemos construir os nossos bens, as nossas farturas, construir as nossas riquezas, construir os nossos valores e construir a nós mesmos.
Portanto, não podemos acreditar que dólar significa bem estar, e daí a gente migrar pensando que vai buscar dólar para ter uma vida melhor! Os gigantes estão com fome, e nós não podemos servir de alimento para o gigantes! Nós vamos resistir! Nós vamos derrubar os gigantes com nossas forças, com nossas práticas, e é isso que vai significar fazer uma revolução.
Então, é preciso acreditar na derrota do gigante! É preciso acreditar na derrota da força, porque a força quem derrota é a inteligência. Nós vamos derrotar a força porque somos inteligentes! Nós somos capazes e é isso que vai fazer com que a gente derrote os inimigos. Então vejam, que há uma possibilidade histórica de fazer com que o Golias seja derrotado, porque ele sempre acreditou que seria vitorioso . E nos, dizem que somos derrotados, mas não somos, nós somos vitoriosos! Este encontro já demonstra a vitória que nós conseguimos.
Somos produto da vitória que nossos pais já acumularam. Então, se nós tivemos a capacidade de derrotar o latifúndio brasileiro, nós teremos também a capacidade de derrotar o latifúndio que é o imperialismo e é a classe dominante desse país.
4o –O conto de que somos todos iguais.
Nós não somos todos iguais, desculpem dizer isso a vocês. Nós somos diferentes, nós não queremos ser iguais àqueles que destróem o nosso país. Nós somos diferentes! Eles dizem que todos temos os mesmos direitos, nós não queremos ter os mesmos direitos da classe dominante! Não queremos dominar ninguém, nós não queremos explorar ninguém, nós não queremos devastar este país, nós queremos reconstruir este país, então somos diferentes! Nós temos idéias diferentes e nós queremos ser diferentes deles que não acreditam na possibilidade de fazer coisas diferentes.
Lembro-me de uma história ilustrativa para recuperar esta idéia do diferente. Num certo tempo, num determinado lugar, havia um senhor, que saiu à rua com seu filho, e este tinha uma deficiência física, em que um pé era maior que o outro. E esse senhor preocupado porque tinha que calçar o filho, comprava sempre dois pares de sapato. Dois pares de sapatos iguais, porém com números diferentes. E ele aproveitava os dois pés que davam certo no menino e jogava fora os outros dois que não serviam.
Mas, ao sair a rua, todas as pessoas o alertavam, que um sapato era maior que o outro, e todo mundo o chamava a atenção, dizendo que o homem tinha calçado o menino com sapatos de números diferentes. E um dia piorou ainda mais, porque ele foi comprar o sapato e não encontrou dois pares da mesma cor.
Então comprou um par de uma cor, e outro par de outra cor, maior, para poder calçar o filho. E saiu na rua com o filho e os dois sapatos diferentes. E aí é que ele sofreu muito mais, porque todo mundo apontando-lhe o dedo: “olha o senhor se enganou, calçou o menino com dois sapatos diferentes, porque são de cores diferentes”. Ele ficou incomodado com aquele negócio, porque ninguém conseguia enxergar que o menino também tinha os pés diferentes.
Sentou-se em uma praça, e começou olhar ao seu redor, e viu que ali tinha meninos descalços e ninguém dava importância, e tinha meninos calçados e ninguém dava importância. E ele descobriu o valor de ser diferente. Ele descobriu que o diferente é o que chama a atenção, o diferente é que é revolucionário e não os iguais porque são os iguais que causam a alienação.
O que segue o outro inconscientemente significa alienação, e então ele descobriu o valor da questão extraordinária. O diferente é extraordinário, e nós somos extraordinários se acreditarmos nesta capacidade.
Agora, porque é que não há o extraordinário no meio da juventude? É porque nós acreditamos que precisamos ser iguais aos outros, nós acreditamos nos mesmos valores que a classe dominante divulga.
A nossa juventude acredita que as mesmas diversões das classes dominantes são as mesmas diversões dos pobres, e os pobres nunca conseguem se divertir com os instrumentos da classe dominante.
Então, precisamos criar esta possibilidade de ser diferente! E precisamos impor a questão diferente para criar um país diferente. E é a revolução cultural que precisa ser implantada. É a gente ter a coragem de sair na rua com o “sapato” de duas cores, e quem questionar a gente ter a capacidade de explicar que nós saímos com “sapatos” diferentes porque queremos ser diferentes daqueles que saem com sapatos iguais e querem nos explorar fazendo com que sejamos com tantas diferenças, todos iguais..
Nós queremos construir uma pátria que seja o espelho de nossa criatividade e não a cópia de um país prepotente que chega aqui e determina até quando é que tem que mudar o horário de inverno e de verão, porque vai gastar muita energia elétrica e eles vão ter muito prejuízo.
Nós precisamos acreditar que em nosso país podemos fazer um plano econômico diferente, que não pode ser cópia daquele que o FMI vem impor aqui e a gente fica quieto.
Nós precisamos implantar em nosso país salários dignos, e não salários que sejam convenientes para a classe dominante, porque senão “vai criar problema na previdência” e nas empresas.
Nós não queremos que as empresas quebrem, mas que nosso povo coma, que nosso povo seja feliz e busque por conta própria, alternativas de trabalho. Se nós dependermos da classe dominante, seremos sempre iguais na ignorância e sempre iguais na pobreza.
Então companheiros, precisamos fazer o extraordinário em nosso meio. Nós precisamos deixar de ser obedientes, deixar de acreditar que as opiniões são verdades, que os erros são valores.
Não, eles não são valores, eles são uma deturpação que contrariam a idéia de sociedade que queremos criar. Então isso depende da gente querer fazer. Depende da gente querer acreditar. Caso contrário seremos engolidos e seremos derrotados, e a nossa geração não terá o prazer de passar para a próxima geração, o orgulho de ter vencido pelo menos uma parte da estrada que começamos a caminhar.
Só aqueles que caminham tem a capacidade de ser diferente. Os que ficam parados são iguais, porque os que ficam parados não tem gestos, os que caminham tem gestos, tem movimentos e se diferenciam justamente por esta capacidade que têm em caminhar.
Portanto, se temos esta responsabilidade, precisamos discutir o que vai significar esta questão da revolução cultural e fazer esta transformação de nosso jeito.
Muita gente pensa que cultura é alguém pegar o violão, vir aqui na frente, alegrar os outros, bater palmas e é a cultura. Outros pensam, que a cultura também é a escrita, a poesia e o teatro.
Outros acrescentam ainda a pintura, acrescentam alguns hábitos, e reduzem o conceito de cultura, achando que nas pequenas partes estão definindo a totalidade das coisas.
Não, isso não é a cultura, isso é uma parte que compõe a nossa cultura. Nós temos como definição de cultura, tudo aquilo que fazemos e sentimos para produzir a nossa existência. Então, se tudo o que fazemos é cultura, logo, produzir é cultura. Se sentir significa cultura, emoção também faz parte da cultura, sonhar faz parte da cultura, amar faz parte da cultura. Então não é só música, poesia e teatro que fazem parte da cultura.
Tudo o que a gente faz, é parte de nossa cultura, da nossa existência, e portanto companheiros, lutar pelo poder também faz parte de nossa cultura. Então, vamos falar de cultura num conceito amplo e não podemos dizer que: vamos fazer uma revolução nas músicas, mas não vamos fazer uma revolução na forma de organizar o movimento. Vamos fazer uma revolução na poesia, mas não vamos fazer uma revolução na forma de produzir nos nossos assentamentos. Vamos fazer uma revolução na escrita, mas não vamos fazer uma revolução nos valores, porque uma revolução em alguns aspectos não significa uma revolução política. Não existe uma coisa sem outra.
Nós temos que fazer as duas ao mesmo tempo. Porque é que vamos discutir a revolução cultural, então? É porque já começamos a fazer a revolução política. É porque já fazem 15 anos que estamos fazendo uma revolução neste país, Estamos derrotando o latifúndio e construindo uma nova forma de produção no campo. Isto é, para organizar melhor esta revolução política, é que nós temos que discutir a revolução cultural, a revolução das idéias, a revolução que vai dar mais vontade a esta revolução também.
Portanto, temos que revolucionar tudo o que é visível e também aquilo que não é invisível. Vocês acreditam nesta possibilidade da gente fazer uma revolução naquilo que é invisível? Se vocês não acreditam nisso, nós temos que parar a nossa discussão porque ainda não entendemos que a realidade é material , ela é prática, ela tem peso, ela tem medidas, mas ela também tem uma parte invisível, que a gente não toca, mas existe.
Esta parte invisível é a parte da energia interna que tem na matéria, na força interna que tem em cada um de nós. Vocês já sentiram saudade? E vocês conseguem tocar na saudade? E ela existe ou não existe? É só vocês ficarem mais uma semana aqui que vocês vão ver o que é sentir saudades. Aí vocês vão ver que ela existe, não é? Vocês já sentiram paixão? E vocês conseguem tocar na paixão? Dá para medir qual é o tamanho da paixão de cada um de nós? Ninguém sabe. Ela é invisível, mas ela existe.
Então vejam, companheiros, nós temos a responsabilidade de pensar nas duas coisas. Diz que nesta semana vocês estavam falando muito de tesão aqui. É, vocês acham que tesão existe? E qual é o tamanho do tesão? Ninguém sabe o tamanho, mas existe porque a gente sente, então é preciso revolucionar as coisas.
É por isso que é preciso revolucionar muitas formas de luta. Muitos modelos de sociedade não deram certo porque as pessoas acreditaram que era só transformar a economia e estaria feita a revolução!
Mas a economia não transforma o invisível! O invisível quem transforma é a capacidade da gente entender que a subjetividade existe, mesmo que não se possa tocar, e é isso que nós vamos fazer.
Portanto eu apresento a vocês, em sete tópicos muito rápidos, o que é que nós temos que revolucionar:
- Primeiro: Nossa vontade.
Nós temos que revolucionar a nossa vontade de mexer nas coisas que são muitas vezes sagradas, intocáveis, impossíveis. É preciso ter vontade de sair de casa para gente poder conhecer a estrada.
É preciso sair de casa para poder fazer a luta, para construir um universo maior do que este que existe dentro da nossa casa. Então, vontade de fazer as coisas é o que vai diferenciar nós das pessoas que estão acomodadas.
Nós temos que ter a vontade de fazer e desenvolver. E é isso que vai fazer o jovem do MST ser reconhecido entre milhares de jovens na sociedade porque este tem vontade e aquele outro não tem. Este quer aprender, aquele não quer. Este quer lutar, aquele não quer. Este quer se desenvolver como ser humano e aquele não quer.
Nós precisamos despertar esta vontade que existe dentro de nós. É preciso dar liberdade a esta vontade, é preciso acreditar que ela existe, é preciso alimentar esta vontade para que ela não morra, para que ela não seja desacreditada. Então, vejam que nós temos uma grande responsabilidade com nós mesmos.
É a primeira responsabilidade para se pensar em uma revolução. É acreditar nesta vontade interna que cada um de nós tem, o poder de sentir e se desenvolver. Se o nosso comandante Che Guevara não tivesse a vontade de ser guerrilheiro, nunca teria saído da Argentina, nunca teria ido para Cuba, para Bolívia, nunca teria morrido na Bolívia acreditando que poderia ter feito a revolução.
Então, nós temos que ter a vontade de subir as montanhas de todos os tipos. Nós temos que ter a vontade de buscar alternativas que tragam coisas diferentes, que tragam o extraordinário em nossos assentamentos e isso nós temos condições de fazer, só depende da gente. Portanto, acreditem que existe entre nós essa possibilidade de desenvolver a vontade.
Segundo: A auto-estima
O que é a auto-estima? É eu acreditar em mim mesmo. Acreditar na capacidade que o ser humano tem de ser construtor, que tem a possibilidade de ser criador. E nós somos filhos, imagem e semelhança do criador. A gente não sabe o poder que tem.
Vocês acreditam que nós somos a imagem e semelhança do criador? Acreditam? Vocês acreditam que são capazes de fazer gente? Acreditam? Claro que acreditam porque vocês podem fazer filhos. E os filhos não são a imagem e semelhança de vocês? Então se comprova que nós temos a mesma capacidade do primeiro criador que criou a gente. Então nós somos verdadeiros deuses com capacidade de recriar à imagem e semelhança as obras que já foram criadas no passado.
Acreditar nisto é auto-estima. Sou importante, eu sou capaz, eu tenho poder de fazer as coisas. E porque é que eu fico de braços cruzados e de olhos fechados se eu tenho todo este poder?
Eu posso criar o mundo novo, um mundo diferente e porque é que eu não faço este mundo diferente? Nós imaginamos que somos inferiores, que o jovem americano é melhor do que nós. Nós imaginamos que a cultura norte americana é superior à nossa. E tem muito babaca comprando CD dos cantores americanos e não tem coragem de comprar os CDs dos nossos cantadores, do nosso Zé Cláudio, do nosso Zé Pinto e de tantos outros.
Nós precisamos acreditar sabem no quê? Que os americanos podem saber colocar um foguete lá no espaço, mas a juventude americana não sabe tocar um berimbau! Eles podem fazer navios que servem para aterrissar aviões, mas não conseguem preparar um chimarrão para a gente tomar coletivamente.
Quem são eles para serem melhor que nós? Nós somos muito superiores a eles! Eles não sabem amar, porque são gerações deformadas. Eles vem para o Brasil procurar nossos jovens e nossas moças para casar porque os jovens e as moças deles são mais feias do que as nossas. Nós somos o povo mais bonito da terra!
E por que não acreditamos em nossa beleza? Por que não acreditamos em nossa capacidade? Os nossos cientistas brasileiros não deveriam querer botar foguetes no espaço com tecnologia dos EUA. Eles chamam de Nave Espacial. No Brasil, já se sai derrotados, o nosso foguete se chama Saci. A gente não sabe se é porque querem que seja inferior, ou se tem uma perna só. Só sobe mil metros, tem que explodir porque subiu torto.
Então vejam o que é humilhação de um povo onde o imperialismo determina o que se deve pensar, o que é que a gente tem que comer. Nós não podemos ser tão inferiores assim, para acreditar que eles são maiores do que nós! Então temos que resgatar esta auto-estima, o poder da nossa juventude brasileira.
Os Estados Unidos tem suas diversões, mas não tem o carnaval que a gente se diverte ao mesmo tempo no Brasil inteiro fazendo as mesmas coisas. Por que é que a gente não valoriza aquilo que temos em nossa terra? Porque é que a gente não valoriza o feijão e o arroz que a gente é capaz de produzir e o alface saboroso que a gente planta? A nossa feijoada que os escravos inventaram que é o prato de melhor sabor existente em algumas regiões de nosso país. A nossa polenta no sul do país, que nós conseguimos inovar e mostrar que ela pode ser diferente!
A capacidade da gente criar o nosso vestuário, de criar nossos alimentos sem comprar os enlatados, os “envidrados”, os plastificados. Então gente, se não tivermos esta capacidade de resgatar a nossa auto-estima, nós seremos mais uma geração derrotada. Resgatando a auto-estima, começaremos a ser vitoriosos.
O jovem precisa acreditar que ele tem o tempo dele, uma potencialidade enorme de condições para criar. Ai fala, eu não estudei, eu não tenho capacidade, eu não fui à universidade por isso eu não posso acreditar que tenho capacidade. Ora, a revolução não se produz dentro das universidades. A universidade é uma ajuda para fazer a revolução, mas ela não é tudo! A revolução acontece no movimento diário que a gente faz. E movimento diário não precisa de muita teoria para fazer. A teoria vem explicar este movimento. E nós, quantos movimentos úteis e inúteis fazemos todo dia? Então é preciso dar utilidade a esta força para que não se perca.
Terceiro: Nossa capacidade de imaginar.
Quando éramos criança, imaginávamos que quando chegássemos a determinada idade, na adolescência e na juventude, iríamos fazer determinadas coisas. Tirar carteira de motorista, para um dia ver se sobra uma vaga no carro de alguém para poder dirigir. Sonhávamos com passeios, com cigarros, portanto, imaginávamos algo diferente.
Quando chegamos à juventude, começamos a perder a capacidade de imaginar e não conseguimos mais imaginar o que será a nossa vida de adulto, como será nossa vida na velhice.
Portanto, um povo que perdeu a capacidade de imaginar é um povo derrotado antes de envelhecer. E nós precisamos desenvolver em nós a capacidade da imaginação, nós falamos em socialismo e não podemos imaginar que modelo de sociedade é o socialismo! E é por isso que a gente não consegue construí-lo. Nós falamos em Reforma Agrária e não conseguimos imaginar um modelo de assentamento que seja adequado às nossas condições locais e regionais.
Perdemos a capacidade de imaginar, de sonhar, e isso é muito perverso porque a geração seguinte não terá em quem se apoiar, se encostar para desenvolver a sua própria existência. Então nós precisamos acreditar nesta possibilidade! Precisamos imaginar, mesmo que sejam “besteiras”, mas a gente tem que imaginar para que nossas idéias floresçam. É preciso imaginar que em um assentamento dá para fazer uma casa diferente do que esta que o Incra impõe para a gente, que tem apenas 42 metros quadrados e que a gente deita no quarto e o pé tem que ficar na sala porque não cabe no quarto o corpo todo.
A nossa casa tem que ser do tamanho de nossa vontade de tê-la, desenhada por nossa imaginação. Se não dá para fazer de uma vez só, a gente faz em duas, em três vezes, e vai emendando até ter uma sala grande que possa caber toda a família e nossos convidados. Nós precisamos imaginar um jardim ao redor da nossa casa e nós produzirmos este jardim do jeito que o imaginarmos.
Precisamos imaginar a nossa lavoura, os nossos animais para que sejam do jeito que a gente imaginou. E precisamos imaginar a nossa noiva, o nosso noivo, quando a gente decidir casar. Eu quero uma loira, eu quero uma morena, eu quero uma assim... e a gente vai procurar, e a gente encontra. Você sabe que encontra. Casamento é igual parafuso, existe uma porca que dá certo para cada um, porque um foi feito para o outro. Então existem duas peças que se combinam, é só procurar que a gente encontra. É preciso imaginar primeiro o que a gente vai procurar.
Tem gente que casa, passa um ano e se arrepende. Ih, olha que trombolho que foi se encostar em mim. Que miséria que me aconteceu! Porque você não imaginou a possibilidade de ter de fato uma companheira, um companheiro que fosse aquilo que seus sonhos diziam. E aí vem a separação e aí vem uma série de problemas.
Então gente, nós não temos tempo. A história não vai dar chance para fazermos duas vezes a mesma coisa. Ela vai dar chance para fazer uma vez só, no máximo nos deixará aperfeiçoar o que fizemos, mas não dará tempo de desmanchar e construir de novo.
Não existirá duas possibilidades de começar outro MST no Brasil. Se este for derrotado, vai nascer outro com outras características, mas igualzinho a este não nasce mais. Então tem que imaginar que esse nunca vai ser derrotado, que nós temos a capacidade de construí-lo melhor ainda do que ele já é.
Vejam que uma revolução cultural significa muito mais preocupação do que a gente está tendo. Pode ser que a gente vá dormir menos, sofrer mais, vai ter menos prazer nessa revolução, vai ter dor, vai ter sangue, vai ter sofrimento, mas sem isso não vai ter vida, porque a vida nasce justamente deste sofrimento.
Quarto: A indignação. Revolucionar a indignação. Um cara indignado é um cara aceso, é um cara elétrico. Ele está pronto para atacar. Quem não tem indignação é um cara acomodado; é um jovem desmoralizado, derrotado. A indignação é o nosso combustível para fazer as coisas acontecerem. E nós temos que ter uma indignação para as coisas que acontecem errado aqui e lá fora.
Muitas vezes a gente vê que lá no Oriente Médio está tendo uma guerra e que lá o imperialismo está derrotando o povo e aí a gente diz: eu não tenho nada a ver com aquilo. E na verdade a gente pensa que está tranqüilo porque o monstro está virado de costas para nós. Mas hoje ele está virado de costas e tentando comer o que tem de bom lá. Amanhã ele vai virar para cá e nós é que vamos ser comidos.
Então, a indignação não tem divisão geográfica. Nós temos que senti-la sem ter fronteiras. Nós temos que sentir indignação quando os EUA procura asfixiar Cuba, dizendo que é um país que precisa ser derrotado porque lá tem um regime que não se adapta aos valores do capitalismo.
E nós temos que ter indignação e orgulho ao mesmo tempo, porque quanto mais os EUA maltrata Cuba, mais ela resiste. E vejam o que Cuba fez. Nós que somos conscientes defensores de Cuba. Eles tem uma crise econômica, deficiência de produção, deficiência de alimentação e quando nós esperávamos que Cuba viesse para cá e pedisse socorro para a gente, para que enviássemos alimentos para lá, sementes, ferramentas, papel higiênico, canetas, cadernos, eles vieram para cá e disseram claramente o que queriam de nós. E sabe o que é que eles disseram para nós? Nós queremos jovens filhos de assentados para formar médicos, para voltar para cá e fazer a revolução na medicina deste país. E nós já mandamos 15 jovens no ano passado, quando comemorávamos 15 anos da criação do MST, e esse ano, estão saindo agora em março, mais 15 jovens para estudarem medicina lá. E vocês sabem quanto custará para nós cada jovem para formar-se médico em Cuba? A passagem para sair daqui e desembarcar na capital de Cuba. E eles vão dar comida, vão dar estudo e ainda vão dar um salário para nossos jovens poderem comprar objetos de uso pessoal.
Quem é os EUA para falar que Cuba não tem valores? Quem é o imperialismo para dizer que não existe solidariedade entre os povos, que esse valor morreu? Nós precisamos acreditar que esses valores estão muito vivos e que as pessoas no sacrifício ainda tem a coragem de levantar a cabeça e dizer: nós podemos ajudar os outros povos que tem as mesmas dificuldades que a gente.
E porque é que nós não temos a capacidade de fazer isso em nosso país? De salvar as crianças que estão morrendo na rua? Se temos a capacidade de salvar as crianças que estão morrendo na agricultura? Porque é que nós não temos a capacidade de orientar a juventude urbana, se temos a capacidade de orientar os jovens do campo? Porque é que nós não temos a capacidade de alimentar o sonho da mulher urbana, se nós estamos alimentando o sonho de libertação da mulher do campo?
Então, vejam que uma revolução significa justamente encontrar as possibilidades de se indignar contra tudo o que está errado e de colocar no lugar coisas que sejam referência. Então eu acho que Cuba vai passar para a história como a referência mais bela do desenvolvimento de valores que existiu em todo este milênio.
Enquanto não criarmos nossa referência aqui, Cuba continuará sendo a referência para o próximo milênio. No dia em que nós criarmos pensando em ser Cuba, nós, o povo brasileiro e eles é que seremos a referência para o mundo pelas qualidades parecidas que temos com aquele país. Por isso não basta defender a vida, temos que defender todos os tipos de vida que existem nesse universo.
Quinto: Fazer revolução na forma de combater.
Um jovem não pode se acomodar. Um jovem só é revolucionário se ele tem a capacidade de combater permanentemente. E nós ainda não estamos combatendo com armas, mas chegará o dia que nós teremos que combater. Nós temos outras armas, outros instrumentos para combater neste momento. E temos uma infinidade de armas que estão ociosas dentro de nosso movimento.
Existem canetas que hoje servem de armas e nós não estamos utilizando, milhares de analfabetos perambulam pelos assentamentos. A caneta é uma arma, o caderno é uma arma, a enxada é uma arma, o trator passa a ser uma arma porque nós temos que produzir e mostrar que a Reforma Agrária dá certo. Então, são frentes de combates que nós precisamos organizar melhor.
Produzir para matar a fome, educar para combater a ignorância e lutar para eliminar todas as injustiças e diferenças.
Combater sem dar trégua aos inimigos da libertação de nosso povo, mas também combater em nós vícios e desvios políticos que se acumularam em nosso comportamento ao longo dos anos. Combater o comodismo, o individualismo e todos os preconceitos que integram a fragilidade humana.
Empunhar bandeiras de esperança que façam todas as pessoas acreditarem ser possível realizar mudanças através da participação e do esforço coletivo.
Sexto: Nossa forma de se alegrar
O prazer está em todas as partes, basta que saibamos descobri-lo. A nossa juventude é negada a condição fundamental de desenvolver a alegria por terem-na colocado em uma condição de derrota.
Há uma profunda insegurança no que diz respeito ao futuro. Os jovens com quinze, dezesseis anos são forçados a definirem-se por uma profissão que não sabem se vão assumi-la porque o mercado de trabalho se torna cada vez mais concorrente.
Os que não conseguem passar no vestibular se sentem envergonhados perante os pais e seus colegas como se fossem inferiores e sem nenhuma capacidade. Mas ninguém pergunta porque temos tantos jovens querendo e não conseguem chegar à faculdade! O Estado deixou de investir em educação porque um povo ignorante á mais fácil de ser dominado.
Por isso nossa juventude entristeceu. A classe dominante procura inventar diversões que possam atrair a juventude e manipular sua consciência, nos rodeios, fantasiando-a de Caw boy ou tornando-a besta sem memória, brincando horas e horas com vídeo games.
Devemos resgatar o que temos de belo e alegre em nossa cultura e mostrar que somos seres humanos e não máquinas, que dentro de nós se esconde um parque de diversões, é preciso despertar os personagens adormecidos para que estes coloquem em funcionamento este centro cultural que é a existência de cada jovem de nosso país.
A alegria é um valor fundamental para cativarmos as pessoas a se integrarem na realização de nosso projeto. O nascimento de uma nova sociedade não pode ser triste. Um novo ser devemos gerá-lo na alegria e não na tristeza.
Sétimo: A nossa história
Não podemos passar para as futuras gerações uma história de derrotas. Nossos descendentes deverão orgulhar-se de nós ao verem as marcas que deixamos pelo caminho que construíram as vitórias.
Os exemplos e o resgate da dignidade é o que podemos deixar como verdadeira herança para nossos descendentes. É preciso fazer a história sem Ter medo das consequências.
Diziam nossos antepassados que a luta de classes é o motor da história. Sem luta não há história, porque não há motor para para movê-la. A classe trabalhadora somente será vitoriosa se lutar, se fizer acontecer as vitórias através da luta.
Esta história deverá ser feita com dedicação e criatividade. Devemos criar as condições para colocar firmemente nossos pés no caminho da transformação. Somente pode criar quem tiver capacidade de soltar os sonhos e fazê-los vagar pelos horizontes em busca do lugar onde queremos chegar.
Para que tudo isso aconteça precisamos de animação, de empolgação. Torcida desanimada não anima time nenhum, e pior ainda, neste caso da construção histórica, onde todos devem entrar em campo, jogar e torcer ao mesmo tempo.
Nossa história será contada de dentro para fora porque nela não haverá espectadores, todos são chamados a intervirem e a deixarem neste cenário real o seu traço que fará parte desta grande pintura da realização de nossos sonhos.
Seremos livres se tivermos capacidade de edificar através da luta a própria liberdade. O monumento da vitória seremos nós, o povo altivo e sorridente. Somente assim poderemos dizer que temos uma nação verdadeiramente constituída e respeitada.
Por fim, quero dizer a vocês o que disse o inventor da matemática Pitágoras, ao se referir ao respeito que devemos Ter a nós mesmos. Disse ele: “Não cometas nenhum ato vergonhoso na presença dos outros, nem em segredo; a primeira lei deve ser o respeito a ti mesmo”. O eu ganha importância quando estiver a serviço do nós. Por isso não devemos fazer ou deixar de fazer coisas que amanhã venham nos envergonhar, nem pelo lado da imoralidade nem pelo lado da covardia.
Um forte abraço a todos vocês e muito obrigado pela oportunidade.



[1] Palestra proferida por Ademar Bogo, no II Curso sobre Realidade Brasileira para Jovens do Meio Rural. Unicamp, fev. de 2000.

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