martes, 20 de marzo de 2007

A CONSCIÊNCIA E SEUS MOMENTOS


Quando estudamos a filosofia, percebemos uma outra particularidade da consciência, que são o conjunto de seus momentos: a) Conhecimento; b) Auto-consciência; c) Emoções; d) Imaginação; e) Vontade.

1. A consciência é Conhecimento
“O modo de existência da consciência e o modo de existência de algo para a consciência é o conhecimento”. Logo se a consciência é o reflexo dos objetos existentes na realidade, o conhecimento destes torna-se consciência. Sem conhecimento não pode haver consciência. Quanto maior o nível de conhecimento mais elevada torna-se a consciência.
Vejamos então um ser social que conhece superficialmente a realidade tem um nível de conhecimento superficial e consequentemente um nível de consciência inferior.
Na política o conhecimento superficial de uma causa se torna superficial a sua defesa nos seus diferentes aspectos. Por isso ideologia e doutrinarismo são opostos.
A ideologia é o reflexo de uma realidade assimilada conscientemente pelo próprio ser social.
O doutrinarismo aluga a consciência de um terceiro para colocar nela conhecimentos já elaborados. Por isso as causas políticas se diferenciam entre: fanáticas, conservadoras, reformistas e revolucionárias.
Neste sentido é que compreendemos o conceito de autodidata, sendo aquele que põe em sua consciência conhecimentos por conta própria. Ou seja, consegue tornar-se mestre de si mesmo. Por isso que em política é fundamental duas coisas: conhecer a causa e saber como construí-la. Isto é possível com muito conhecimento.
Para nossas análises, para a nossa luta, é preciso avaliar o que conhecemos, como usamos o conhecimento e que importância tem ele para a nossa vida.
Algumas questões:
- O que conhecem os homens e mulheres de seu próprio corpo, de sua própria história, de sua própria comunidade?
- Que críticas fazem ao sistema dominante?
- Que críticas fazem às relações humanas que são estabelecidas onde vivem?
- O que sabem sobre os objetivos que a organização lhes propõe?

2. A consciência é Autoconsciência ou consciência de si.
Além de refletir o mundo exterior a consciência auto-reflete o mundo interior do ser social, seu estado de espírito, convicção de seu papel no meio social. “A consciência – diz Marx – nunca pode ser outra coisa senão o ser consciente”.
O ser social, através de sua autoconsciência descobre a consciência de si próprio perante a realidade e assume uma posição: decisão de ser igual ou diferente. Desta forma torna-se agente de transformação da realidade. Compara-se com a realidade externa, avalia-se, orienta-se, controla-se, decide-se nas diferentes situações, julga, opta pelo bem ou pelo mal enfim, tem consciência do que é e do que faz.
Neste sentido é que a consciência política transforma-se em posição de classe. A autoconsciência é o nível superior do desenvolvimento da consciência.
Neste estágio as pessoas estão convictas, não oscilam em suas posições, facilmente percebem quando caem em contradição, defendem sua classe e sua organização sem vacilações, confrontam-se com a ideologia dominante com clareza e convicção.
A autoconsciência possibilita que o militante se oriente por conta própria; que desenvolva a auto-estima; que goste de si e faça da vida uma tarefa a mais a ser cumprida, por isso é preciso mantê-la e preserva-la.
Algumas questões:
- Que juízo as pessoas fazem de si em nossa base?
- Como está a auto-estima? As pessoas gostam de si mesmas?
- Como está o cuidado com a vida?

3. A consciência são emoções.
A partir do conhecimento e da autoconsciência o ser humano sente prazer, descontentamento, indignação, ódio, amor, simpatia ou repulsa. A depender do nível e do momento da consciência em que se encontra, consegue controlar estes instintos e manifestações subjetivas ou não.
As emoções se manifestam através da convivência social ou das relações estabelecidas com o mundo objetivo. Marx diz que “os sentimentos de um ser social são diferentes das do ser não social”.
Esta relação que há entre o conhecimento e a autoconsciência eleva a consciência e a desenvolve através das formas. Aqui se compreende porque podemos nos indignar contra qualquer injustiça cometida contra qualquer ser vivo nesta relação entre homem-universo.
A partir dos paradigmas que se colocam como referências, reagimos favorável ou contrariamente com maior ou menor emoção.
A prática dos valores é uma consequência de uma profunda sensibilidade com o mundo exterior na relação do homem com os objetos e seres vivos.
O isolamento e a rotina levam a diminuição do campo das emoções pela “ausência” de conhecimento. As emoções vêm do reconhecimento coletivo pelo esforço empregado, mas também pela satisfação pessoal, pelo serviço feito e pelas conquistas alcançadas.
Emocionar-se é o mesmo que sentir-se presente, parte de algo que valeu a pena ter feito. As emoções daquele que faz, são diferentes daquele que nada faz.
Algumas questões:
- Aquilo que nossa base faz, causa emoções?
- O trabalho e a convivência são significantes ou um peso a ser carregado?
- Na relação familiar a mulher sente as mesmas emoções que o homem, ou cada qual cuida de si?

4. Consciência é imaginação .
A consciência humana tem a capacidade de imaginar além da realidade imediata, constituir formas, estabelecer referências de tamanho, de cores, de quantidade etc. A isto chama-se combinação de formas mentais em novos objetos que não existem propriamente na realidade.
Através da imaginação consegue-se conceber através de uma forma ideal o que queremos alcançar concretamente posteriormente, antecipando portanto, a realidade que ainda está por se constituir materialmente.
A imaginação dinamiza a criação despertando interesse pela sua continuidade. A falta de imaginação é a decadência, desestimula a busca de alternativas, cria dependência e consequentemente dominação dos que tem capacidade de imaginar sobre os que não aprenderam imaginar.
A classe dominante quando quer enganar, faz com que as pessoas imaginem o que ela imaginou primeiro, por isso substitui o sujeito do próprio sonho.
É fundamental desenvolver a capacidade de imaginar o futuro e o que queremos construir nele. Ninguém consegue fazer algo, se não conseguir vislumbrar a imagem de como será.
Essa combinação também deve se dar entre dirigentes e a base pois, a imaginação de um não pode prejudicar a imaginação do outro.
Algumas questões:
- O que nossa base imagina sobre o futuro? Que interesses manifestam nessa imaginação?
- Que autonomia tem uma família de imaginar o seu futuro em relação a casa, o lote, o trabalho, a religião, etc.?
- O que se imagina no campo da arte e como se manifesta essa imaginação?

5. A consciência é vontade.
A consciência tem um caráter ativo durante e “após” sua formação. A vontade é a capacidade de mover todas as forças para satisfazer as necessidades de transformação da realidade.
Esta consciência da necessidade leva a mover-se para alcançar os objetivos estabelecidos. Por isso não basta ter consciência das necessidades, é preciso saber elaborar objetivos para serem alcançados.
Há uma mistura de convicção com objetivo na alimentação da vontade, por isso a mística torna-se razão do fazer cada vez melhor em busca da perfeição.
É teimosia que se transforma em resistência, em procura de caminhos para solucionar os problemas. É o desejo de não se deixar derrotar. É portanto vontade de vencer.
Novamente na questão da organização de massas é fundamental prestar atenção no estado de espírito e a causa da desmotivação que freqüentemente pode atingir a massa.
A falta de perspectivas pode diminuir a vontade e levar a um estado de pessimismo irreversível. A falta de vitórias e conquistas podem levar a frustrações comprometedoras.
A vontade move a teimosia e esta organiza a resistência. Ao mesmo tempo que a vontade motiva a ir além pode desmotivar para retroceder. Por isso é preciso ter claro o que se quer alcançar para que não haja frustrações.
Algumas questões:
- Como está a vontade de lutar da nossa base?
- Até onde pretende ir a nossa base? E o que quer fazer quando lá chegar?
- Os pais tem a mesma vontade que os filhos? Como se combinam e descombinam as vontades em nossa base?

Em suma, a consciência é esta oscilação dentro destes cinco momentos que se combinam e que por sua vez se acentuam de acordo com as contradições que se formam e se desfazem na realidade. A formação da consciência é um processo dinâmico e profundamente vinculado a prática social (Mobilização – Organização e Formação).

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